ATA DA DÉCIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 02.6.1992.

 


Aos dois dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Fi­lho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Oitava Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a comemorar o Centenário da Ascensão de BAHA’U’LLÁH, fundador da Fé Bahá’í, concedida através do Projeto de Resolução nº 113/92 (Processo nº 1136/92), de autoria do Vereador Dilamar Machado. Às dezessete horas e sete minutos constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Senhores Antonio Parracho, Coordenador da Assembléia Espiritual Local do Bahais de Porto Alegre, Enayatollah Vahdat, Representante da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahais, sua Esposa, Senhora Jaleh Vadhat e Verea­dor João Dib, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Dilamar Machado, proponente e em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PTB, PPS, PL e PT, pronunciou-se acerca da homenagem, hoje, prestada por este Legislativo, discorrendo sobre a origem da Fé Bahá’í, bem como, de sua importância para todo mundo, visto ter por objetivo a preservação do meio ambi­ente e a união entre os seres humanos. Disse, ainda, que para os adéptos dessa Fé a fraternidade universal e o desejo de ser feliz são primordiais na vida do homem. Congratulou-se com os representantes da Fé Baha’í. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PDS, teceu comentários sobre a Fé Baha’í dizendo que as re1igiões equivalem-se, contando que os homens que as professam sejam bons e para a seita Baha’í todas as religiões são consideradas como revelação do Deus único, abolindo as de­sigualdades de classes, raça, religião e guerras. Desejou paz a todos presentes, bem como, aos integrantes dessa fé. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, fazer um minu­to de ref1exão e silêncio em homenagem à memória de Baha’U’Lláh. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a pala­vra ao Senhor Antonio Parracho que reportou-se sobre a vida de Baha’U’Lláh e seus conhecimentos filosóficos, expressando o reconhecimento da Entidade que representa a homenagem prestada pela Casa. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou o recebimento de Telex do Governador do Estado, passando-o às mãos do Senhor Enayatollah Vahdat. Às dezessete horas e trinta e oito minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente agrade­ceu a presença de todos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e secretariados pelo Vereador João Dib, Secretário “ad hoc”. Do que eu, João Dib, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º  Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a comemorar o Centenário da Ascenão de Bahá'U'Lláh, fundador da Fé Bahá'í. A autoria da proposição é deste Vereador que preside os trabalhos.

Convido, para compor a Mesa dos trabalhos, o Ilmo. Sr. Coordenador da Assembléia Espiritual Local do Bahis de Porto Alegre, Dr. Antonio Parracho; o Ilmo. Sr. Representante da Assembléia Espiritual Nacional dos Baháis, Dr. Enayatollah Vahdat. A Esposa do Sr. Enayatollah Vahdat, Drª Jaleh Vahdat.

Esta Casa se sente honrada, nesta data, em homenagear a Comunidade Internacional Bahá'í pela passagem do Centenário da Ascenão de Bahá'U'Lláh, seu fundador. Este Vereador falará em nome do PDT, PMDB, PTB, PPS, PL e PT.

Coincidentemente, nos encontramos às vésperas da RIO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento e gostaria de salientar que, desde 1970, a Comunidade Internacional Bahá'í é Membro Consultivo do Conselho Econômico e Social da ONU e mantém escritórios com intensa atuação em assuntos relacionados ao meio ambiente em Nova York, Genebra, em Brasília e no Rio de Janeiro, onde fará parte do Fórum Global 92, no âmbito das Organizações Não-Governamentais. Participará de uma programação que inclui um simpósio sobre "NOVOS VALORES E MUDANÇAS INSTITUCIONAIS PARA UMA CIVILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL", e a publicação do livro "O AMANHÃ PERTENCE ÀS CRIANÇAS", em colaboração com a UNICEF e a organização do Show da Unidade, a convite da própria ONU, como observadores políticos.

É importante saber que no momento em que o Rio de Janeiro, ex-Capital deste País, uma das mais importantes cidades do mundo, abriga, nas próximas horas, uma centena de mandatários das maiores nações do mundo, de pessoas interessadas especificamente na preservação do meio ambiente de todo o planeta, e um dos mais dignificantes exemplos de unidade mundial está sendo dado exatamente pela Fé Bahá'í, pela Organização Internacional Bahá'í.

E no palco, no cenário maior da ECO-92, vai deixar plantado um grande monumento, uma grande ampulheta, Ver. João Dib, em que cada mandatário, cada representante de cada povo deste planeta, trará consigo um punhado de terra de seu país de origem para ali unir, num só monumento, as terras do Planeta. Acho que isto dignifica e mostra o espírito Bahá'í, a vontade de unir os povos, a fraternidade universal e principalmente o desejo de que todos sejam felizes. Esta sábia experiência, este ensinamento que deixou o Bahá'U'Lláh, tem como berço uma civilização que já completou 2.500 anos, da dinastia persa.

Tem como figuras exponenciais aqui, em nosso Estado, o nosso ilustre convidado, que compõe a Mesa, que há muitos anos dedicam, misturando as suas atividades, as suas famílias, a sua competência, o seu trabalho, com a pregação desta fé universal que hoje é tão importante que participa da própria Organização das Nações Unidas, como organismo não governamental.

Eu só queria, aos meus amigos Vahdat, Antônio e a Jaleh, dizer, mais uma vez, que ao longo da minha vida quero muitos outros encontros com os Baháis, depois que tive oportunidade de, neste Plenário, entregar uma das mais justas homenagens que o Legislativo de Porto Alegre já prestou a alguém, ao Enayatollah Vahdat o título de Cidadão Porto-Alegrense. Merecido título que sei que ele, como ser humano, da melhor qualidade que é, guarda entre as passagens de sua vida como um momento de intensa emoção. E nós, como Vereadores, sabemos que foi um momento de intensa justiça. Alguém que, vindo da Pérsia, do Irã, há trinta e cinco anos, se tornou um dos nossos. E ao longo deste País, por onde anda, por onde existem as sedes Baháis, vem espalhando, acima de tudo, aquilo que este País precisa, como qualquer povo do mundo, a fraternidade universal. Do homem olhando o homem no olho, mão na mão, se posso fazer uma homenagem aos Baháis, faço talvez com simplicidade, mas com intensa honestidade pessoal. Eu nunca vi um Bahá’í fazer mal a alguém deliberadamente. E acho que isto diz tudo. Vocês, meus amigos, aqui presentes, a minha homenagem não só ao Centenário da Ascen￾ão de Bahá'U'Lláh, ocorrida dia 29 de maio- aliás, se estende pelo País, pelo mundo, mas principalmente à Fé Bahá’í, aos seus pregadores, aos seus divulgadores, porque nada é feito sem que atrás destes movimentos existam pessoas de bem e, acima de tudo, bem intencionados.

O meu abraço aos companheiros presentes, aos amigos presentes. Tenho a honra de passar a palavra ao Vereador João Dib, também um amigo Bahá’í, que prestará a sua homenagem, da nossa tribuna, em nome do PDS, a esta solenidade e a lembrança da Ascensão de Bahá'U'Lláh.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. JOÃO DIB: Exmo. Sr. Presidente, Ver. Dilamar Machado. Meu caro Dr. Antonio Parracho, Coordenador da Assembléia Espiritual Local do Baháis, de Porto Alegre. Meu querido amigo de longa data, desde que aqui chegou, Enayatollah Vahdat. Sua querida esposa, Drª Jaleh Vahdat. Minhas senhoras e meus senhores.

Respondendo a uma pergunta do diretor de culto sobre qual seria a melhor religião, Frederico, o Grande, disse que todas as religiões eqüivalem-se, contanto que os homens que as professam sejam bons homens. Emirza Hussein Halinuri, Bahá'U'Lláh, nascido em 1817, e falecido em 1892, quando fez a sua ascensão é o fundador da seita Bahá'í. Considera todas as religiões como revelação do Deus único, e se devota à abolição da desigualdade de classes, de raça, de religião e das guerra. Os Baháis acreditam que Deus enviou vários profetas para ensinar verdades morais eternas e revelar novos princípios sociais adequados às diferentes épocas. Bahá'U'Lláh declarou que todas as religiões cultuam o mesmo Deus, e que a mais nobre forma de adorá-lo é servir aos nossos semelhantes. Também ensinou que Deus quer que todas as pessoas formem uma sociedade unida baseada na aceitação mútua. Bahá'U'Lláh não aceitava a discriminação de idade, raça ou sexo e defendia um sistema federativo de governo mundial. Nós vivemos momentos extremamente difíceis, porque no nosso mundo falta solidariedade, falta religião dentro da alma de cada um de nós; alguns dizem sou católico, budista, protestante, porque nasci católico, budista ou protestante, mas o importante é que as pessoas tenham dentro de sua alma a religião, dentro de suas consciências as necessidades de solidariedade humana; a necessidade de sabermos que todos somos iguais perante Deus, que não há diferença entre preto e branco, entre amarelo e o branco. Não há diferença. Todos temos alma, todos fomos criados por Deus, é a ele que devemos prestar contas. E a melhor forma de adorar Deus e prestar contas a Deus, como a religião, que o senhor diz, é servir o nosso semelhante, é sermos solidários, é nos preocuparmos com a unidade da raça humana. Vivemos um mundo em que temos guerra todos os dias; temos fome, miséria, doença, enquanto alguns enriquecem, enriquecem e não se sabe para que tudo aquilo, porque ninguém como duas vezes na mesma hora; ninguém está em dois lugares ao mesmo tempo. Era mais importante que usássemos o dinheiro da guerra para a unidade mundial; uma bala de fuzil, uma simples bala de fuzil sustentaria uma família durante uma semana inteira; ora, vejam, balas de metralhadora, de canhões, bazucas, mísseis, bombas, aviões a jato, fortunas imensas. A Guerra do Golfo uma dívida entre Iraque e Kuwait. Não seria melhor pagar a dívida do que gastar tudo que gastaram, perderam vidas, e fazer a paz mundial, a unidade de todos os povos? Gastaram muito mais, dezenas de vezes mais, do que a dívida que havia entre os povos, que são irmãos, que não são diferentes. Mas interesses de algumas pessoas, no mundo, fazem com que nos esqueçamos de que é muito mais importante servir do que ser servido. Com o dinheiro das balas, canhões, desses mísseis, alimentaríamos todos os famintos, curaríamos todos os doentes, nós daríamos oportunidade de educação para toda a população do mundo. Nós não teríamos problemas de controle de natalidade. O mundo cresceria normal e fraternalmente e todos seriam felizes.

Eu dizia a Drª Jaleh, há pouco, que a felicidade e a infelicidade são duas coisas que até nem existem. Nós passamos muito tempo- e perdemos tempo- buscando fugir da infelicidade ou correndo atrás da felicidade. Na verdade, existem alguns momentos que são muito bons, que são capazes de fazer com que tenhamos resistência para os outros, que são em muito maior número e, que não são tão bons. Talvez um dos melhores momentos na vida de um homem seja exatamente aquele em que ele sorri porque diz "eu pude servir". "Eu pude ser útil ao meu irmão, ao meu amigo, não fiz um inimigo e tenho prazer imenso de ter sido útil". Como é bom poder dizer "eu ajudei". Melhor, muito melhor do que dizer "eu fui ajudado". Mas também não deixa de ser grato sentir que "eu fui ajudado no momento em que necessitei, porque também sei que também havia outras pessoas que são boas, que se preocuparam comigo". Assim, se cada um de nós estivesse preocupado com seu irmão, procurando dar melhores condições de vida a todos, viveríamos um mundo maravilhoso. Eu, para encerrar, vou ler o que eu copiei sobre a paz que os Baháis desejam, sobre a unidade de toda a raça humana. Se nós pudéssemos ter essa paz, nós poderíamos dizer: "Ó paz formosa; ó suspiro universal dos mortais; se os homens te conhecessem e zelassem mais por ti, a natureza voltaria a ter os seus direitos; haveria no mundo uma única família; o amor como árbitro a tudo governaria e a terra deixaria de estar coberta de crimes nefandos. E, aí, nós poderíamos olhar um para o outro e dizer: cada rosto é um povo, cada povo é um homem; cada homem um irmão; cada irmão tem um nome; cada nome cidadão universal."

A todos eu desejo paz. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras, Senhores, antes de passarmos a palavra ao próximo orador desta Sessão Solene, convidaria a todos os presentes para que, em pé, durante um minuto, permanecêssemos em silêncio, como uma homenagem não só à memória de Bahá'U'Lláh, mas, principalmente, como um momento de reflexão e de oração em nome dos Baháis que, ao longo dos últimos anos, foram perseguidos, sacrificados e assassinados pela prepotência e pela ignorância.

 

(Os presentes, em pé, observam um minuto de silêncio.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tenho a honra de conceder a palavra, neste momento, em nome da Fé Bahá'í, homenageada nesta Sessão Solene, que comemora o Centenário da Ascensão de Bahá'U'Lláh, ao Coordenador da Assembléia Espiritual Local dos Baháis, Dr. Antonio Parracho.

 

O SR. ANTONIO PARRACHO: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Dilamar Machado; Ilmo. Sr. Representante da Assembléia Espiritual Nacional dos Baháis, Sr. Enayatollah Vahdat e sua esposa; Ver. João Antônio Dib.

Nos sentimos imensamente honrados em estar hoje aqui nesta Casa, em homenagem ao Centenário da Ascensão de Bahá'U'Lláh, cuja visão do homem, em seus aspectos social e espiritual desafia a curiosidade e o ímpeto de todo pesquisador.

Poderíamos falar do quão incomum foram seus primeiros anos, com uma infância marcada pela admiração e respeito que lhe devotavam pessoas de grande destaque. Fato bem conhecido em Teerã, sua cidade natal, é o de que Bahá'U'Lláh nunca chegou a freqüentar escola, porque demonstrava tanto conhecimento e uma inteligência tão precoce, que em toda a cidade não havia mestre que reconhecesse ter algo a lhe ensinar. Seu pai pressentia desde cedo que o filho não podia ser comparado com outra criança e que uma grande missão o aguardava.

Podemos citar um fato inusitado da sua infância, quando seu pai, um Ministro da corte real, havia sido obrigado a pagar uma alta soma ao rei, cobrada arbitrariamente. Passado pouco tempo, o rei fizera uma segunda exigência, também de enorme vulto, à qual ele não pode atender. Bahá'U'Lláh, um menino de apenas oito anos, foi até a presença do rei e argumentando com tal sabedoria e fluência, convenceu o soberano e demoveu-o da cobrança injusta.

Aos treze anos, tornara-se célebre por seus conhecimentos e pela capacidade de discorrer sobre qualquer assunto e resolver as mais intrincadas questões filosóficas. Vivia cercado por pessoas do governo e sacerdotes.

Poderia enumerar um elenco de histórias de sabedoria, coragem, hospitalidade, eloqüência e generosidade, pelas quais chegou a tornar-se conhecido como o "Pai dos pobres", já com quase trinta anos de idade.

Mas gostaria de enfocar outras características marcantes da sua vida. A partir do momento em que aceitou a mensagem trazida pelo Báb, seu predecessor e que era na verdade um mensageiro de Deus, Bahá'U'Lláh passou a ser alvo de tremenda perseguição, marcada por confiscos de todos os seus bens e por cruéis exílios e encarceramentos. Na condição de banido de sua terra natal, declarou publicamente a sua missão de manifestante de Deus para a época atual da humanidade, dando início a um capítulo sem par na história do desenvolvimento espiritual e social da raça humana.

Através do efeito dos ensinamentos transmitidos por ele próprio, a comunidade de seus seguidores conheceu o crescimento e a transformação individual ética e moral. Pelo poder de suas palavras, registradas em um sem número de livros e epístolas, homens e mulheres de todas as idades, classes ou origens religiosas, recebiam inspiração e tomavam contato com um novo modelo de vida, tão ansiosamente acalentado.

"Um só ato reto"- assegura Bahá'U'Lláh a seus seguidores- "é dotado de uma potência suficiente para elevar o pó... e restaurar a força... que se desvaneceu". "tratai aos outros com o maior amor e harmonia", exorta ele. "É pelas vossas ações que vos podeis distinguir dos outros".

Bahá'U'Lláh teve plena consciência de que o nosso tempo não requer apenas mudanças individuais, mas é absolutamente necessário empreender grandes mudanças institucionais, pelas quais todo o planeta clama.

Impulsionado por esta consciência, Bahá'U'Lláh escreveu aos reis e governantes dos principais Países da sua época uma série de cartas, que são um chamamento vigoroso no sentido de reestruturar socialmente um mundo iludido pela vanglória do poder e pelo ufanismo nacionalista desenfreado, um apelo a que os soberanos de seu tempo, inebriados por ódios e preconceitos, reparassem suas injustiças para o bem de seus povos.

"Ó reis da terra!"- afirmava Bahá'U'Lláh- "Nós vos vemos aumentardes, todos os anos, vossos gastos, cujo peso pondes sobre vossos súditos. Isso, em verdade, é flagrante e inteiramente injusto"... "Não ponhais encargos excessivos sobre vossos povos. Não lhes roubeis a fim de erguerdes palácios para vós; não, antes, escolhei para eles o que escolheis para vós mesmos".

Dizia ele ainda: "Vossos povos são vossos tesouros... por eles é que governais, pela sua ajuda ganhais vossas vitórias... no entanto, com que desdém olhais para eles!"

Com energéticas palavras, Bahá'U'Lláh condenava veementemente a agressão armada e estendia um chamado vibrante à paz: "Ó governantes da terra! Sede reconciliados entre vós, para que não mais necessites de armamentos... uni-vos... pois assim a tempestade da discórdia se aquietará entre vós e vosso povo encontrará sossego.. é homem, verdadeiramente, quem hoje se dedica ao serviço da humanidade inteira... feliz é aquele que se levanta para promover os melhores interesses dos povos e raças da terra... que não se vanglorie quem ama seu próprio país, mas sim, quem ama o mundo inteiro."

"A condenação mais severa de Bahá'U'Lláh é reservada às barreiras que, ao longo da história, a religião organizada ergueu entre a humanidade e as revelações de Deus. Os dogmas, inspirados pela superstição popular, têm sido repetidamente impostos. As leis de interação social, reveladas com o fito de consolidar a vida comunitária, têm sido utilizadas como base de estruturas de doutrina e prática arcanas que têm oprimido as massas a cujo benefício deveriam servir. Mesmo o exercício do intelecto tem sido deliberadamente dificultado, levando ao colapso o diálogo entre fé e ciência, do qual depende a vida civilizada. A conseqüência é o descrédito em que caiu a religião em todo o mundo e tornou-se ela própria uma das maiores causas de ódio e luta armada. "O fanatismo e o ódio religiosos", advertiu Bahá'U'Lláh há mais de um século, "são um fogo devorador do mundo, cuja violência ninguém pode conter. A mão do poder divino, tão-somente, é capaz de livrar a humanidade dessa aflição desoladora."

Bahá'U'Lláh não falou apenas por si, ele foi o instrumento através do qual o próprio criador manifesta o seu plano maior para a humanidade: "O que o senhor ordenou como o remédio soberano e o mais poderoso instrumento para a cura do mundo inteiro é a união de todos os seus povos em uma causa universal, em uma fé comum".

O teor de grande parte da obra de Bahá'U'Lláh é dedicado a lançar as diretrizes para a implantação da nova ordem mundial, com o fim de todos os tipos de preconceitos, a eliminação de extremos de riqueza e pobreza, a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, a adoção de um idioma universal auxiliar, a criação de um governo mundial e através do estabelecimento da paz e da unidade do gênero humano.

"Tão potente é a luz da unidade que pode iluminar toda a Terra.", afirma ele.

Bahá'U'Lláh salienta o potencial humano e enfatiza o papel da educação neste processo de transformação: "Considerai o homem como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação, tão somente, pode fazê-la revelar seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela algum benefício."

E aos legisladores, Bahá'U'Lláh aconselha: "Segurai-vos firmemente à corda da consulta, decidindo e executando o que conduza à segurança e prosperidade do povo, a seu bem-estar e sua tranqüilidade, pois de outro modo a discórdia e o tumulto resultarão."

Bahá'U'Lláh não produziu sua obra escrita gozando das benesses da corte, em meio à qual nascera. Foi privado de suas possessões e da liberdade física. Cada palavra proferida por ele foi acompanhada de uma grande aflição.

Isto não o impediu de cumprir o propósito de sua missão, relatado nestas suas palavras: "A beleza antiga consentiu em ser confinada por grilhões para que a humanidade fosse livrada de sua escravidão;... temos aceito o aviltamento... a fim de vos enaltecer, e sofrido múltiplas tribulações para que vós pudésseis atingir o sucesso e a prosperidade."

Neste momento, queremos expressar o nosso reconhecimento à acolhida que esta Casa sempre prestou à comunidade Bahá'í. E registrar nosso agradecimento por esta digna homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e senhores, comunico telex recebido do Exmo. Governador Alceu Collares, cumprimentando a Casa e a comunidade Bahá'í pelo Centenário da Ascensão de Bahá'U'Lláh, impossibilitado de comparecer por estar participando da ECO-92, no Rio de Janeiro, passo ao amigo Vada, sabedor do carinho que o Governador Collares tem pelos seguidores da Fé Bahá'í por certo estaria aqui conosco. Quero agradecer as presenças honrosas do prezado amigo Antonio e de sua querida esposa, também do casal Vada, a todos os senhores e senhoras que vieram conosco participar desta homenagem, mais do que uma homenagem da Câmara Municipal foi um momento de reflexão sobre o centenário que se comemora da Ascensão de Bahá'U'Lláh, e também sobre a luta desenvolvida pelos divulgadores da Fé Bahá'í, ao longo dos últimos cem anos. Meu abraço a cada um de vocês, muito obrigado pela presença honrosa.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h38min.)

 

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